quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Saco de Ratos 2 – pancadaria e lirismo


Cê já tomou uma grande surra na vida? Mas ainda assim, depois de tudo, cuspiu no chão e seguiu caminhando trôpego, quase vitorioso, por que sacou que apesar da merda toda, ainda sobrou um gole na sua garrafinha de bolso? 
Não? Nunca? Então faz o seguinte: escuta os rock and rolls do disco novo da Saco de Ratos, dá quase no mesmo.

Os caras que vão te detonar são esses sujeitos esquisitos que parecem ter saído de filmes e livros de procedência duvidosa: Fábio Brum – o Keith Richards brasileiro – meio que quer te deixar vulnerável com seus riffs destruidores que te desnorteiam, daí vem Marcelo Watanabe, um samurai afiando um gargalo de garrafa em cordas de aço pra te retalhar, Rick Vecchione é o boxeador dando jabs certeiros na tua cara, te encurralando num muro de concreto, o muro é o baixo destruidor de Fábio Pagotto, Mário Bortolotto é o entusiasta, o que quer ver o oco, que grita na tua cara enquanto te arrebentam e ao mesmo tempo deixa claro que aquilo é só uma lição que tão te dando, é aí que cê saca que vai sobreviver, se lembra da garrafinha no bolso.

Cê já se fudeu pra caralho? Perdeu mulheres e nunca mais as encontrou? Não? Nem uma? Azar o seu, talvez você nunca entenda a poesia absurda que esses caras conseguem tirar da solidão, baladas despedaçantes que de tão tristes ou sinceras – sei lá – te fazem companhia, não te deixam cortar os pulsos ou atirar contra a própria cabeça, te fazem cair fora, sair andando na chuva, parar num boteco qualquer e ficar sacando pernas se movimentando, bebendo devagar, pronto pra outra.

Quem conhece o primeiro disco ou já curtiu os shows dos caras ou mesmo as porradas de vídeos no youtube, sabem do que eu tô falando, não tem como ficar alheio, Saco de Ratos é sangue, tesão e suor em cada acorde, é poesia em estado bruto em cada frase, um troço que te enche de esperança quanto aquele lance do rock and roll ter morrido em letras vazias, sobre estarmos condenados a ouvir eternamente antigos discos de rockeiros e bluseiros mortos, porra nenhuma, ainda há esperança pra geração dos que chegaram atrasados, há algo novo e cheio de vida que acabou de sair do forno, do útero, que caiu do céu ou veio das profundezas do inferno, como cê preferir.

Saco de Ratos 2: 12 rounds de pancadaria e lirismo, rock and rolls destruidores e baladas despedaçantes, eis o antídoto pro tédio e pra solidão, pra sujeitos estranhos que bebem demais e sonham demais e perdem demais, mas sabem, sempre haverão garrafas ainda cheias e mulheres que ainda não se foram.

Mário, Brum, Watanabe, Rick e Pagotto, todo meu respeito e admiração.

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