Cê já tomou uma grande surra na
vida? Mas ainda assim, depois de tudo, cuspiu no chão e seguiu caminhando
trôpego, quase vitorioso, por que sacou que apesar da merda toda, ainda sobrou
um gole na sua garrafinha de bolso?
Não? Nunca? Então faz o seguinte:
escuta os rock and rolls do disco novo da Saco de Ratos, dá quase no mesmo.
Os caras que vão te detonar são
esses sujeitos esquisitos que parecem ter saído de filmes e livros de
procedência duvidosa: Fábio Brum – o Keith Richards brasileiro – meio que quer
te deixar vulnerável com seus riffs destruidores que te desnorteiam, daí vem
Marcelo Watanabe, um samurai afiando um gargalo de garrafa em cordas de aço pra
te retalhar, Rick Vecchione é o boxeador dando jabs certeiros na tua cara, te
encurralando num muro de concreto, o muro é o baixo destruidor de Fábio Pagotto,
Mário Bortolotto é o entusiasta, o que quer ver o oco, que grita na tua cara
enquanto te arrebentam e ao mesmo tempo deixa claro que aquilo é só uma lição
que tão te dando, é aí que cê saca que vai sobreviver, se lembra da garrafinha
no bolso.
Cê já se fudeu pra caralho?
Perdeu mulheres e nunca mais as encontrou? Não? Nem uma? Azar o seu, talvez
você nunca entenda a poesia absurda que esses caras conseguem tirar da solidão,
baladas despedaçantes que de tão tristes ou sinceras – sei lá – te fazem
companhia, não te deixam cortar os pulsos ou atirar contra a própria cabeça, te
fazem cair fora, sair andando na chuva, parar num boteco qualquer e ficar
sacando pernas se movimentando, bebendo devagar, pronto pra outra.
Quem conhece o primeiro disco ou
já curtiu os shows dos caras ou mesmo as porradas de vídeos no youtube, sabem
do que eu tô falando, não tem como ficar alheio, Saco de Ratos é sangue, tesão
e suor em cada acorde, é poesia em estado bruto em cada frase, um troço que te
enche de esperança quanto aquele lance do rock and roll ter morrido em letras
vazias, sobre estarmos condenados a ouvir eternamente antigos discos de
rockeiros e bluseiros mortos, porra nenhuma, ainda há esperança pra geração dos
que chegaram atrasados, há algo novo e cheio de vida que acabou de sair do
forno, do útero, que caiu do céu ou veio das profundezas do inferno, como cê
preferir.
Saco de Ratos 2: 12 rounds de
pancadaria e lirismo, rock and rolls destruidores e baladas despedaçantes, eis
o antídoto pro tédio e pra solidão, pra sujeitos estranhos que bebem demais e
sonham demais e perdem demais, mas sabem, sempre haverão garrafas ainda cheias
e mulheres que ainda não se foram.
Mário, Brum, Watanabe, Rick e
Pagotto, todo meu respeito e admiração.
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