Prefácio que o Bruno Bandido escreveu pro meu FANTASMAS NÃO RESPEITAM GEOGRAFIA
A ilustração da capa é do Marcelo Bonilha e o Projeto Gráfico é do Osvaldo Piva. O Lançamento em
São Paulo é dia 9 de Abril na Buenas
Bookstore. que fica no Teatro Cemitério
de Automóveis SP.
É bacana
beber com o Felini
Já faz tempo que eu bebo com o Felini. Ele é um personagem
recorrente na bibliografia do Kleber. E tá em uma nova cidade agora, com sua
velha máquina de escrever e um fantasma do qual tenta se livrar. Ele ainda escreve.
É isso que o Felini é, um escritor. É tudo o que ele tem, é o que o diferencia
de um rato, de um mendigo, é o que o torna um filho da puta orgulhoso,
circulando entre universitários cults,
hippies infinitos e habitantes de
pensão. Ele não tem medo das encrencas e chatices que a simples frase “eu sou
um escritor” pode causar. É aí que entra o humor e a diversão na literatura de
Kleber Felix. Também temos a tristeza, a angústia e as fossas. É claro, isso
vem da vida. Por isso é tão bacana beber com o Felini. Ele é um sujeito
engraçado e sensível, como eu imagino que o Kleber também deva ser. Só que isso
não vem ao caso. O que interessa é que ele tá ainda mais afiado neste novo
livro, com um ritmo que mistura sua prosa seca com imagens poéticas e
surrealistas, uma gama de personagens elaborados e interessantes (cada um
renderia um livro próprio) e grandes sacadas na hora de falar de sexo, de
relacionamentos e de uma nova geração que cresceu com Tarantino sendo seu
Godard e recebeu sua própria Odisseia (Breaking
Bad) de um dos produtores de Arquivo
X. Óbvio que algo zoado sairia daí. Kleber saca isso como poucos e, num dos
capítulos mais bacanas do livro, revisita Jules Winnfield e Vincent Vega, mas capina tanto sua própria
cultura que a violência deixa de ser estilizada para chegar em Travis Bickle.
Mas vamos falar sobre sexo. Ele é um
elemento chave desse livro. Felini anseia por bucetas universitárias, bucetas
prostitutas, bucetas psicólogas, bucetas amadas, bucetas violentas, bucetas
acolhedoras, todo tipo de buceta, tipo a apresentação do bar em Um Drink no
Inferno, tão ligados? E enquanto Felini passa por essas trepadas, Kleber
apresenta seu show de literatura. Ele não quer nos dar erotismo. Ele quer
dissertar filosoficamente sobre o sexo como uma espécie de Henry Miller, ele
quer nos dar imagens tacanhas e engraçadas em frases que mais parecem haikais de motel, "Boca, buceta e
pau, um meia nove brutal", e ele usa o cinema, "Minha Uma Thurman maconheira, minha Ornella
Muti debruçada na janela de um túmulo monumental. Em fade in, meto devagar pra ser eterno e o que é bom dura pouco... slowmotion... blecaute". E não satisfeito, ainda tem a manha de chamar Roger
Donaldson pra dirigir a cena. Acontece que sempre que falamos de Felini,
entramos em seu poço de sensibilidade – o fantasma o segue pelas trepadas, e
elas não deixam de ser uma espécie de fuga e de refúgio. Prestem atenção neste
trecho, pois nele aprendemos que uma buceta, para Felini, pode ser sua própria
Pasárgada: “Ali dentro sim, é um lugar
bom pra se viver, não no mundo. Ali dentro dela não existe miséria nem doença,
ninguém morre. Ali dentro dela tem um jardim que tá sempre florido e as flores
são bacanas e a lua é linda, os pássaros cantam tão bem e até anjos e deuses
que se despregam de cruzes bem podem existir. Ali dentro dela eu era feliz”.
O que
acontece é que toda fuga é furada se você não furar sua cabeça. É lá que todos
os fantasmas estão. Felini pode ensinar isso sendo ghost-writer de uma puta, voltando pra casa ou se perdendo de
todos, criando sua própria cidade fantasma, sua galeria de fracassos que
enlouqueceram. Ele já nos ensina isso no próprio título do livro. Mas e daí?
Ele é um escritor ou um rato? Por isso é tão bacana beber com o Felini.
Bruno
Bandido é escritor e autor do livro Tem
um palhaço agressivo e um hooligan triste em algum lugar aqui dentro
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