quinta-feira, 10 de setembro de 2015

MEU SEGUNDO LIVRO (2009)


A vida era boa. Às vezes eu até me achava um grande escritor. Talvez por que as referências na cidade me mostrassem isso. Com meu primeiro livro esgotado e a grana consumida, pensei, pô, vou repetir a dose. Escrevi um projeto pro fundo de cultura que tinha bancado o primeiro livro. Afinal, era um livro de longe melhor que o anterior. Eram esses contos – nem bons, nem ruins – influenciadaços por Bukowski e um pouco de anarquia. Eles me responderam o seguinte:

"...soneto em mim menor para copos e cinzeiros,por não atender aos pressupostos teóricos da Teoria da Literatura e por apresentar linguagem agressiva, pornográfica e que não contém poeticidade foi por essa comissão rejeitado..."


Fiquei puto. Blasfemei contra as instituições família, estado, igreja. Planejei alguns atentados revolucionários à casa do Secretário de Cultura e outros não tão revolucionários assim. 
Pensei em homicídios com requintes de crueldade. Pensei até em processa-los. Por fim só escrevi um texto no meu blog. E um mês depois, descolei um empréstimo no banco e editei o “soneto em mim menor para copos e cinzeiros”. Coloquei a carta de rejeição deles na íntegra, scaneada, escrita a mão, assinada. Consegui com isso um pequeno tumulto, uns desafetos a mais e a pecha de escritor pornô. Achei legal, eu andava me sentindo bem nesse tempo. Às vezes até me achava um grande escritor.

A capa é do Van Jader.

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