Uma garota meio bêbada adentrando meu inferno particular, insinuando através de frases desarticuladas que se sentia bem ao meu lado, me fazendo crer que não sou assim tão antipático e desinteressante quanto imaginava naqueles dias.
Gripado e de ressaca num inverno brutal, dispensando cerveja numa festa universitária open-bar. Que merda eu tava fazendo ali? Fui de vodka.
Falei qualquer coisa simpática, mesmo sem sorrir, ela também não precisava de tal artifício.
“Tem refri aí dentro?” – ela perguntou.
Me pegou desprevenido tentando dizer não, deu um bom trago no meu gole.
“Vô lá pegá mais pra gente.” – foi.
Sem um copo em mãos me sinto desprotegido, meio canastrão entre a ‘galera’, digno de pena, até. Um ou dois versos beats, alguns acordes dum sax invisível, desolação, evitando cigarros, catarros verdes congestionando um pulmão falido. Às vezes tudo parece uma piada de mal gosto, um programa de tv dominical, um romance ruim, uma caixa de fósforos úmida no bolso da jaqueta e ela tá de volta, um copo cheio, ausência de sorriso e um olhar que só tem quem bebe vodka sem refri. Seguro forte o copo plástico como um rosário, ou uma arma. Um pequeno gole, depois, outro maior, me sinto melhor, ainda sei o caminho de casa.
“Tchau.” – ainda consigo ouvi-la dizer.
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