Ontem, por acaso encontrei o brotherWenderCarbonari, dias atrás ele tinha feito uma entrevista comigo pro Jornal“A Notícia”, um jornal laboratório dos cursos de comunicação social da Unigran, o Wender faz jornalismo, terceiro ou quarto ano, não tenho certeza, o lance é que ele quis fazer essa matéria comigo, não exatamente sobre meu trampo, também, mas a idéia era um perfil sobre o escritor bêbado, hesitei a princípio, mas ele me convenceu, não precisou de muito pra isso, já que tô ligado que o lance dele no jornalismo é outro, quer dizer, ele curte um lance chamado “Jornalismo literário”, acho que é isso, não tenho tanta propriedade pra dissertar a respeito, ele queria fazer algo diferente do proposto pelos professores do curso, uma matéria em primeira pessoa, um troço que segundo ele é inaceitável, pelo menos por aqui, o que provavelmente lhe daria nota zero, ele tava cagando pra isso, queria escrever a matéria por afinidade mesmo, não só por sermos camaradas, mas por fazermos coisas bem parecidas, quer dizer, eu escrevo meus “blues em prosa”, ele toca guitarra na banda “Esckolblues”, talvez por isso botou o título da matéria de “O escritor blues”, o que pra mim, com toda a modéstia que às vezes fode minha vida, me deixou orgulhoso, só acho que ele devia ter assinado “WenderCarbonari, o jornalista blues”, mas tudo bem, talvez seria demais mesmo, pros padrões. Espero que ele consiga tirar pelo menos um e meio, mesmo sabendo que não faz diferença alguma. Parece que ele curtiu escrever, eu curti ler também. Valeu man.
Literatura das ruas
O escritor blues
Wender Carbonari
Kleber Felix é o tipo de pessoa que você não conhece dois iguais na vida. Confesso que eu estava com pressa. Tinha que fazer a entrevista logo. Mas antes da primeira pergunta ele pediu uma cerveja, logo acendeu um cigarro e a conversa começou...
“Era pra eu ter sido um cara normal, desses que sempre vejo passando do outro lado da rua, eu tinha planos para isso, mas muito cedo eu conheci um negócio chamado Rock and Roll”
“Eu queria ser hippie antes de tudo isso. Queria botar a mochila nas costas e ir embora. Mas eu não tive motivo sabe, meus pais são os pais mais legais do mundo”
Com de 27 anos, natural de Birigui, interior de São Paulo, Kleber Felix não era aquela criança que sentava no “fundão”, muito menos daqueles que sentava junto aos estudiosos da classe. Ficava no canto, não tinha muitos amigos.
Para marcar a passagem da infância para adolescência de uma pessoa algo grande tem que acontecer. No caso de Felix, o detalhe revolucionário foi o rock, para ser mais exato o punk rock. Ainda em uma época em que ser escritor não passava pela sua cabeça.
“Hoje, eu acho que não sei fazer outra coisa. Eu gostava de escrever, não que eu não goste mais, mas agora é quase uma necessidade”
Veio para Dourados fazer o curso de história que não concluiu por detalhes. Ainda no terceiro ano surgiu a velha pergunta: “Não sei se é isso que eu quero”. De fato, não era o que ele queria. Chegou a começar o curso de Letras. Novamente parou.
“Tudo que eu escrevo nos livros eu considero como ficção. Mas surgiu de algum lugar. De repente com uma conversa com um amigo, de algo que aconteceu de verdade”
Ainda na faculdade percebeu o gosto pela escrita. Chegou a esboçar uma novela. Assim, aos poucos começou a desenvolver seu próprio estilo.
Sem esperar ser contratado por alguma grande editora, Kleber Felix começa a produzir seus livros, imprimir e vender seu trabalho pelas ruas da cidade. Para muitos, algo próximo de pedir esmola. Ele comenta que já sentou cansado no meio fio, pensou em desistir e procurar um emprego algumas “incontáveis vezes”. E assim como um alcoólatra que diz que vai parar de beber enquanto está bêbado, Kleber Felix volta para as ruas no dia seguinte para continuar suas vendas. “Eu não gosto, acho que estou me acostumando, mas sou um péssimo vendedor” diz.
Ir de mesa em mesa vender suas histórias e repetir o mesmo texto centenas de vezes não é tarefa fácil. Não existe uma censura para as palavras usadas nos livros do Kleber. Ele mesmo confessa que não tem uma responsabilidade social pelo que escreve. Alguns detalhes em seus contos podem ofender os mais conservadores.
“É tudo meu o que está alí, mas de repente nada é verdade. Pode ser chamado de Conficção que é uma ficção com convicção”
Por vezes, seus contos lembram as letras tristes do “Blues”. As histórias de seus personagens se confundem com sua próxima história ou com experiências contadas por conhecidos.
Perguntei se ele, por tudo que já viveu, se sentia velho, e, categoricamente, responde que há oito anos achava que sim. Mas hoje percebe que está só começando.
Kleber Felix já lançou um livro de poema, três peças teatrais, um livro e contos, uma novela e um romance.
...Desliguei o gravador, conversamos por mais de horas. E como se fosse combinado, as minhas perguntas acabaram no instante em que tomamos o último gole e percebemos que a garrafa já estava vazia.
Bacana.
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