Escrevi esse conto pra Revista CLITORIS http://revistaclitoris.wordpress.com/, saiu na segunda edição.
Nada mais importa
Meu pau tava podre, uma ferida
do naipe duma couve-flor bem perto da cabeça que fedia pra caralho. Justamente
quando ela resolve dar pra mim. Era a garçonete mais linda dum barzinho pop
metido a rock and roll, deliciosa, meio pirada, meio burrinha na sua
espontaneidade, uma graça, já fazia uns meses que eu sonhava com sua bunda
redondíssima, seus peitões a la american girl, sua boca tesuada. Depois dum
pénabunda, sonhos exigem tornar-se realidade, do contrário, cê desiste deles,
eu depositava minha última ficha naquilo, além do que: não fodia há mais de
três meses.
Conheci ela fumando, quer
dizer, já a havia sacado desde a primeira vez que pisei no lugar e devido a sua
simpatia a gente sempre trocava uns “eaí, beleza” e ela me servia umas doses
generosas de Domecq ignorando a porra do medidor, não tive escolha, fui me
apaixonando a cada “eaí, beleza”, a cada novo trago, devo confessar: sempre
tive uma queda por garçonetes tesudas, ela era a melhor, ao contrário do seu
local de trabalho, mas foda-se, o que eu tava dizendo é que a primeira vez que
conversamos – mesmo! – ela tava fumando, do outro lado da rua, num bequinho
escuro. Duas ou três vezes na noite ela atravessava a rua e entrava no beco,
depois dum tempo saquei que ela fazia isso mais ou menos às 23, à 01 e nos
finais de semana às 4 ou 5. Era uma sexta à noite ou coisa assim, um dia de
movimento no lugar, depois de incontáveis doses mais que generosas, eu diria
até: amorosas, eu entendi que desejá-la platonicamente tornara-se algo tão
inútil quanto incômodo. Passava das 5, eu tava ali desde às 4, no beco, feito
um bicho acuado, só esperando ela pintar, quase achando que tudo num passava de
mais uma fantasia alcoólica que dali à algumas horas desapareceria pra dar
lugar a uma puta dor de cabeça dos infernos. Mas eis que surge, distraída sacou
o cigarro, estalei meu zippo fake furtado duma barraquinha paraguaia, num
movimento quase coreografado, treinado incansavelmente durantes semanas, o
resultado não foi lá o esperado, fez um barulho danado e um fogo dos diabos.
Pobre gostosa, quase enfartou, acalmei o coração que havia debaixo daqueles
peitões com um “relaxa baby” seguido dum “eaí, beleza” depois que ela relaxou,
sorriu “beleza”, aceitou meu fogo, reclamou da dupla-pop da noite (tavam
tocando O Rappa) e do movimento do bar que a impediu de fumar antes, e foi só.
Ela era daqueles tipos faladores, que gostam de remoer um assunto banal
qualquer até a exaustão e acham que o tempo dum cigarro é insuficiente pra que
um interlocutor entenda o quanto um lugar pode ser chato quando cê tá afim de
fumar. Mas como foi bacana sacar aquela boca em movimento, engatando frases
imensamente mais complexas que um “eaí, beleza”, ah só mais um pequeno detalhe,
os caras começaram um “Nothing Else Matters” do Metallica – no fim do cigarro, no meio dum assunto a muito acabado – uma
pegada mais que pop a dos pretendentes metaleirospops... ela atirou longe a
bituca e deu um pulo “Até que enfim, uma coisa que preste! Adoro Gun’s!!!” e
foi-se saltitante, atravessou a rua levando consigo aquela bunda maravilhosa e
eu só não brochei por que, bem, cê sabe.
Só numas de encher o saco,
ranzinzar um pouco – bem rapidamente, já volto ao que (imagino) interessa –:
Nunca entendi essa coisa de uniformes, desde os tempos de escola eu num ia
muito com a idéia, sei lá, essa padronização toda e o caralho. Trabalhei na
porra dum supermercado por uns tempos e o uniforme era amarelo e a porra do
supermercado era grande e empregava uma cacetada de gente, de modo que as
camisetas amarelas tavam por toda parte nos horários de entrada, saída e almoço
de cada um dos turnos da parada. Enquanto a gente tentava chegar em casa,
éramos obrigados a ouvir a cada 10 passos, piadinhas do tipo: “tem uma carta aí
pra mim, carteiro?” era uma merda, os filhos da puta te empalam, bebem teu
sangue, te tratam como lixo em troca dum saláriozinho vergonhoso e ainda te
expõe ao ridículo te fazendo passar por garoto propaganda – tá certo que era só
botar outra camisa antes de sair pra rua, eu até que fazia isso, mas porra, é
difícil demais pensar nesse tipo de coisa quando tudo que se quer é chegar
naquilo que cê chama de lar e engolir qualquer coisa ou simplesmente apagar.
Caralho, tá tudo errado nessa porra de mundo, os socialistas deviam fazer
qualquer coisa a respeito, além das reuniões de partidos, podiam começar
organizando greves contra o uso de uniformes. Nos tempos da escola era ainda
pior... ah, deixa pra lá. O que eu queria dizer é que o pessoal que trabalhava
nesse tal bar, usavam um uniformezinho ridículo que tentava inutilmente fazer
referência aos trajes de policiais rodoviários ou coisa que o valha, eles eram
os mestres da publicidade, o nome do lugar era “Easy Rider”, nas paredes uma
porrada de quadros com retratos de escritores beats e bluseiros e rockeiros e
trechos da rota 66 e até uma parede dedicada ao grande Dennis
Hopper, um lugar bacana,
mas era só fachada, um lugar pra bandas pops bacaninhas tocarem pra galerinha
cult-alternativa. Um verdadeiro lixo e eu num saía dali. Aguentava tudo calado,
só pra poder ver aquela gostosa carregando bandejas dentro daquele
uniformezinho que de forma alguma escondia seu recheio. Caralho, um cara
apaixonado é capaz das piores babaquices possíveis. Eu era um babaca,
apaixonado e redundantemente cheio de esperanças. Quem espera sempre alcança –
é assim que eles dizem, né não?
Meu dia chegou, pode crê. E
aquela porra de ferida fedorenta tentando empatar a – acreditava eu – mais
maravilhosa futura foda da minha vida. Ela queria dar pra mim, não foi
exatamente essas as suas palavras, mas porra, era isso que ela quis dizer com:
“amanhã tô de folga, vamô beber alguma coisa em algum lugar?”, ouvir aquilo foi
mais emocionante que ouvir pela primeira vez o “Envelhecido 12 anos” dos
Bêbados Habilidosos, a minha reação foi a mesma, sem palavras balancei a cabeça
positivamente emocionado, o mundo já não era um lugar tão ruim pra se viver.
Combinamos lá em casa às 9.
Saca esses carinhas virgens? Ou
babacas místicos apaixonados, preparando o ambiente, baseados bolados, incensos,
discos na agulha, vinhos e o caralho. Era eu às 7. Eu e a maldita pereba, eu e
a apreensão toda – por causa da pereba – encarando meu pau mole com uma gilete
na mão, sem saber se devia ou não usá-la, acovardei-me, eu e minha covardia.
Ela chegou.
Sem o uniformezinho. Um micro
shortinho jeans, desses da moda, desfiados, com fundos de bolso aparecendo, um
salto mais alto que o necessário, Axl Rose estampado numa camiseta preta sem
mangas nem gola, recortada na altura do umbigo – maravilhoso, diga-se de passagem
– uma mochila com 3 cervejas importadas, objeto de furto do patrãopop que
pagava suas contas. Atacamos as cervejas, ela negou o baseado, não usava
drogas, botei pra tocar um mp3 do Metallica, todos os álbuns tavam ali, Kill 'Em All é bacana, depois fomos de vinho e ela falando
desenfreadamente, sentada no meu colchão e aquelas pernas esticadas tão
próximas de mim, comecei passando a mão de leve enquanto ouvia suas asneiras
pops com Master of Puppets de fundo, ela num parecia querer trepar, queria
ficar falando, a porra da paciência é uma merda duma virtude, garrafas de vinho
tem o seu tempo, esperei, depois da segunda ela foi ficando menos arisca,
aceitando melhor meus elogios e minhas carícias tendenciosas, o lance ia rolar,
só o que me preocupava era a pereba, o vinho acabou, mas em compensação eu tava
beijando aquela boca tesuda, uns beijinhos de leve, ela era cheia de fazer cu
doce, mas tava afim, pra facilitar um pouco as coisas alcancei a garrafa de
conhaque que marcava por ali, dei um bom gole e passei pra ela “ai, whisky me
deixa muito bêbada”, mas mesmo assim deu um gole dos bons também “num é whisky”
como era gostoso aquele corpão roçando o meu “bom esse whisky” “é conhaque”
“uma delícia”.
Caralho, ela que era a delícia da minha vida. Meu
pau doente tramando suicídio, prestes a explodir aquela ferida em putrefação
ralando na calça jeans. O que eu podia fazer? Sem conseguir pensar em nada
melhor, resolvi executar o único plano que tinha em mente, falei que ia mijar e
segui pro banheiro, botei com cuidado uma inoportuna camisinha sabor menta,
numas de disfarçar o cheiro e tentar esconder a merda da ferida, já que essas
camisinhas afrescalhadas são tão afrescalhadas que têm cor, essa era verde.
Puta troço estranho esse de camisinha colorida, tô ligado que tem gente que tem
fantasias e a coisa toda, mas pô, um pau encapado em plástico já é deprimente,
em plástico colorido então, é mais que brochante. Foi o que rolou, brochei. Sei
lá, fui ficando nervoso, aquela desgraça doía quando a merda da camisinha
encostava e tinha aquela puta gostosa lá fora me esperando, dentro daquele
micro-short da moda, tomando conhaque pensando que era whisky, confundindo
Metallica com Guns. Voltei derrotado
pro quarto, brochantemente derrotado e ela ali deitada com aquela bundona
virada pra cima, o pau indigno reclamou sua reputação, tornou-se uma rocha,
bichada, mas uma rocha. Deitei do seu lado quase em cima com a mão já apertando
aquela bunda tesuada e ela foi dando uns gemidinhos e esfregando os peitões e
foi levantando e eu na sua cola e ela meio querendo sem querer, fazendo charme
ou qualquer coisa do tipo “cadê o whisky? Eu quero um gole” e virou a garrafa
com sede, depois me beijou, aquilo foi incrível, um belo beijo de conhaque, me
embebedei porra, eu num vi mais nada, tesão puro, saca? Correndo nas veias mais
veloz que qualquer droga injetável, um puta tesão.
Cê sabe, tesão num entende nada
de doenças venéreas, muito menos te deixa lembrar que você possui uma e que ela
fede e é feia pra caralho e cê num deseja uma merda dessa pra ninguém, muito
menos pruma roqueirinha daquele naipe. Nunca gostei muito do Axl, sempre
preferi o Slash, fui tirando a camiseta dela, como se aquilo me insultasse, ela
soltou um “ai” misto de prazer e incômodo, me atrapalhei com o sutiã, quando
ela sacou que se aquilo não abrisse ‘já’ não abriria nunca mais, aliás, não
seria mais nada, nunca mais, deu um jeito de desabotoar o negócio... meu
Deus... Satanás ou o caralho que for, eram os peitos mais lindos que já vi em
toda a merda da minha vida, saca esses peitões que incrivelmente desafiam a lei
da gravidade? Pois é, era um par desses que ela tinha, dois belos bicos rosados
simetricamente perfeitos, apontando pra Deus – Satanás tava mais embaixo e eu
já chego lá – primeiro dei uma lambida meio selvagem em cada um, não houveram
outras, o que ocorreu depois pode ser definido como ‘drenagem’, eu queria
aqueles peitos todos dentro da minha boca, eu queria mastigar e engolir cada um
deles, eu tava loucão com aquela porra de Metallica na minha cabeça, nada mais importava, nada além do tesão,
arranquei com facilidade short e calcinha e cai de boca numa buceta recém
depilada num estilo punk, quis entrar ali dentro, mas não foi possível, resolvi
enfiar o pau. Caralho, ela era toda apertadinha, meti como quem conta os
últimos segundos, antes da bomba explodir e satanás sorrir, porra nenhuma, eu
era satanás, eu tava uivando mais que o Howlin´ Wolf, mas num era de prazer
não, era de dor, parece que isso assustou ela um pouco, depois dum tempo,
quando eu já tava quase virando lobo, ela deu um jeito de cair fora, “calma,
calma, por favor, calma” ela falava. Será que eu tava tão assustador assim?
“Tenho que ir embora, cadê minha calcinha?” Pô, tava doendo, mas eu aguentava,
tava gostoso. Onde é que ela tava indo? Ao banheiro quando gritou desesperada.
Uma barata, pensei, e abri os olhos na direção dos gritos que não acabavam
nunca, um puta rastro de sangue no chão, começava no colchão e seguia até onde
ela tava, imóvel, ainda gritando “Eu tô sangrando, me ajuda!!!” – suplicava –
“relaxa, cê só tá menstruada.” – eu tentava acalmá-la – “Num é menstruação!!!!”
ela esgoelava. Enfim, um puta panpeiro, por fim resolvido com um bocado de papel
higiênico enrolado. Enquanto se vestia “Nothing Else Matters” começou a tocar,
aí ela meio que congelou, deixou a calcinha caída na altura dos joelhos e ficou
ali, meio que em transe, olhando fixamente pro rádio tocando, uma cena bacana
de se ver, mas o cuzão do Hetfield fudeu
com tudo quando começou a cantar, ela saiu do transe como quem sai da sala pra
cozinha e terminou de vestir a calcinha, ajeitando o pequeno maço de papel ali
naquela perdição e logo já tava toda vestida. “...tchau” – falou antes de sair,
depois de dizer: “Adoro Guns! Esses outros rock que a gente tava ouvindo é
muito pesado...”
Substitui o Metallica por um Tom Waits e fiquei ali, sacando
as paredes, fumando o baseado desprezado, me sentindo mal, mas ao mesmo tempo
bem, saca? Dei uns goles no conhaque e até senti um levo sabor de whisky, antes
de apagar. Acordei estranho pra
caralho, no meio de sangue coagulado em boa parte do lençol, bem no meio do
quarto tinha aquela mancha marrom marcada de pés e bitucas e cinzas de cigarro,
nojento, mas nem por isso meu pau deixava de permanecer duro e eu ali com
aquilo sem a menor vontade de bater uma. Mó trauma daquela maldita ferida, foi
aí que eu resolvi, fui decidido pro banheiro e pequei a gilete, e... ué! A
merda da pereba num tava mais ali, tinha só uma marca que deixava claro que
muito sangue saiu dali. Tava tudo explicado.
Sei lá se passei pra ela minhas
feridas, até a procurei uns dias depois, lá no popbar, ia esclarecer o mal
entendido e sugerir que procurasse um médico. Antes que eu conseguisse qualquer
coisa nesse sentido, ela foi categórica: num queria mais dá pra mim, por que eu
era muito violento e parecia um bicho selvagem e a fiz sangrar e quase morrer
de hemorragia. Não me deu chance de falar, nem ao menos de pedir um conhaque,
fui embora um tanto magoado. Nunca mais apareci no lugar.
Às vezes eu fico com a mó
vontade de pintar por lá, ficar olhando praquela bunda e praqueles peitos, só
sacando a forma como eles se mexem, de longe, do beco, escondido, feito um
bicho selvagem de verdade, aí quando ela chegasse sacando o cigarro, eu faria
um movimento calmo com o zippo, silencioso e infalível, aí eu ia dizer olhando
por entre a chama: “baby, tem uma coisa que eu acho importante que cê saiba:
“Nothing Else Matters”, num é Guns, é Metallica”. Mas eu num sou tão
selvagem assim.
muito foda...cada vez melhor
ResponderExcluirValeu mano. Cê tá com algum blog novo ou desistiu de vez?
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