sábado, 23 de novembro de 2013

Ex-amiga

Às vezes me pego procurando-a em outras mulheres. Olhos, bocas, línguas e bucetas. Só olhos bocas línguas e bucetas. Tem dias que é foda. Tem dias que o sol brilha mais que o necessário. Tem dias que eu nem escovo os dentes, cago e nem limpo a bunda. Mijo fora do vaso e depois piso co’as minhas meias imundas. Fico atirando no teto, bolinhas de papel higiênico sujo de porra. Tem dias que eu sinto seu cheiro no meio da pilha de louça mofada. Me vicio em baladas estranhas, me ausento dos bares, me enfio embaixo das cobertas e presto falsas homenagens a mister Marley. Procuro as merdas das respostas e só vêm perguntas. Perguntas idiotas que só um idiota apaixonado é capaz de perguntar. Ofendo meus amigos co’a minha indiferença. Com meus pontos de vista confusos, exagerados e meio prepotentes. Trato mal  garotas bacanas. Não me desculpo depois. A culpa não é minha. A culpa é toda dela.

Às vezes me pego procurando-a em panfletos da igreja universal. Quase rezo, quase choro, encho a cara e ligo a cobrar, ela nunca atende, me masturbo de pau mole, faz tempo que não chove, me sinto um bosta,
um zumbi sem palmares,
um cowboy sem as calças socadas no rabo,
uma buceta sem clitóris,
um Jesus sem cruz.

Ás vezes me pego procurando-a, no Google, nos classificados de jornais, nas redes sociais, nas frases rabiscadas nos muros e em paredes de banheiros públicos. Nos espelhos rachados, capas de discos ou naquelas fotos bizarras estampadas atrás dos maços de cigarro, no gato ou no carro parado na esquina, no pó, na neblina, nas bulas de remédios tarja preta, nas contas de energia atrasadas, nas calcinhas de outras embaixo do meu colchão, nas palmas no portão

Às vezes me pego procurando-a, no vômito ao lado da cama, no apito do trem, na plantinha que deixei morrer, nas sacolas de lixo cheirando mal, na sujeira embaixo das minhas unhas, na barata morta no canto da porta, na goteira da torneira, no prestobarba enferrujado, na faquinha de serra, no disco riscado, na guerra da próxima manhã
Na próxima catástrofe
No próximo depois
No próximo caos
No próximo fim

Às vezes me pego procurando-a, na menina que dorme ao meu lado


E o pior, é que sempre a encontro.

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