Às
vezes me pego procurando-a em outras mulheres. Olhos, bocas, línguas e bucetas.
Só olhos bocas línguas e bucetas. Tem dias que é foda. Tem dias que o sol
brilha mais que o necessário. Tem dias que eu nem escovo os dentes, cago e nem
limpo a bunda. Mijo fora do vaso e depois piso co’as minhas meias imundas. Fico
atirando no teto, bolinhas de papel higiênico sujo de porra. Tem dias que eu
sinto seu cheiro no meio da pilha de louça mofada. Me vicio em baladas
estranhas, me ausento dos bares, me enfio embaixo das cobertas e presto falsas
homenagens a mister Marley. Procuro as merdas das respostas e só vêm perguntas.
Perguntas idiotas que só um idiota apaixonado é capaz de perguntar. Ofendo meus
amigos co’a minha indiferença. Com meus pontos de vista confusos, exagerados e
meio prepotentes. Trato mal garotas
bacanas. Não me desculpo depois. A culpa não é minha. A culpa é toda dela.
Às
vezes me pego procurando-a em panfletos da igreja universal. Quase rezo, quase
choro, encho a cara e ligo a cobrar, ela nunca atende, me masturbo de pau mole,
faz tempo que não chove, me sinto um bosta,
um
zumbi sem palmares,
um
cowboy sem as calças socadas no rabo,
uma
buceta sem clitóris,
um
Jesus sem cruz.
Ás
vezes me pego procurando-a, no Google, nos classificados de jornais, nas redes
sociais, nas frases rabiscadas nos muros e em paredes de banheiros públicos.
Nos espelhos rachados, capas de discos ou naquelas fotos bizarras estampadas
atrás dos maços de cigarro, no gato ou no carro parado na esquina, no pó, na
neblina, nas bulas de remédios tarja preta, nas contas de energia atrasadas, nas
calcinhas de outras embaixo do meu colchão, nas palmas no portão
Às
vezes me pego procurando-a, no vômito ao lado da cama, no apito do trem, na plantinha
que deixei morrer, nas sacolas de lixo cheirando mal, na sujeira embaixo das minhas
unhas, na barata morta no canto da porta, na goteira da torneira, no
prestobarba enferrujado, na faquinha de serra, no disco riscado, na guerra da próxima
manhã
Na
próxima catástrofe
No
próximo depois
No
próximo caos
No
próximo fim
Às
vezes me pego procurando-a, na menina que dorme ao meu lado
E
o pior, é que sempre a encontro.
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