Talvez eu assuma meu blefe.
Talvez eu rasgue o baralho, pare com a bebida, perdoe minha tristeza e caia na
chuva. Pegue aquela curva que vai dar sabe-se onde.Talvez eu te telefone no
meio da noite e gagueje clichês. E volte a sofrer. Talvez eu volte pros
setenta, pros chás, ervas e fungos. Talvez eu aprenda clarinete. Talvez eu caia
fora pruma noitada de jazz sem volta. Talvez eu quebre todos os meus discos de
blues e rasgue toneladas de livros malditos (pouco provável). Talvez eu passe a
freqüentar festas chatas. Talvez eu sorria simpático pra amebas em trajes da
moda.Talvez eu assalte um banco e vá viver em Miami. Talvez me
candidate à vereador (Não, isso nunca!).
Talvez eu faça uma merda maior que as anteriores e vá parar na cadeia,
num hospício. Numa igreja. Talvez Jesus toque meu coração, como eles dizem por
aí. Talvez eu siga por toda a eternidade, sempre trocando: uma fuga por outra.
Um vício por outro. Um copo por outro. Talvez eu encha a cara e escreva mais um
romance ou mergulhe noutra nóia qualquer. Talvez eu volte aos trash-metal
oitentistas, destilados baratos e comprimidos de anfetamina. Talvez essa noite,
me lembre duma antiga oração infantil, sobre anjos e sonhos bons. Talvez eu
quisesse acreditar. Na merda toda. Talvez eu continue como o cacto no vasinho
em cima da geladeira.
Talvez (é bem provável),
Eu só esqueça o AMOR.
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