terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Tchau, amor

Talvez eu assuma meu blefe. Talvez eu rasgue o baralho, pare com a bebida, perdoe minha tristeza e caia na chuva. Pegue aquela curva que vai dar sabe-se onde.Talvez eu te telefone no meio da noite e gagueje clichês. E volte a sofrer. Talvez eu volte pros setenta, pros chás, ervas e fungos. Talvez eu aprenda clarinete. Talvez eu caia fora pruma noitada de jazz sem volta. Talvez eu quebre todos os meus discos de blues e rasgue toneladas de livros malditos (pouco provável). Talvez eu passe a freqüentar festas chatas. Talvez eu sorria simpático pra amebas em trajes da moda.Talvez eu assalte um banco e vá viver em Miami. Talvez me candidate à vereador (Não, isso nunca!).  Talvez eu faça uma merda maior que as anteriores e vá parar na cadeia, num hospício. Numa igreja. Talvez Jesus toque meu coração, como eles dizem por aí. Talvez eu siga por toda a eternidade, sempre trocando: uma fuga por outra. Um vício por outro. Um copo por outro. Talvez eu encha a cara e escreva mais um romance ou mergulhe noutra nóia qualquer. Talvez eu volte aos trash-metal oitentistas, destilados baratos e comprimidos de anfetamina. Talvez essa noite, me lembre duma antiga oração infantil, sobre anjos e sonhos bons. Talvez eu quisesse acreditar. Na merda toda. Talvez eu continue como o cacto no vasinho em cima da geladeira.
Talvez (é bem provável),

Eu só esqueça o AMOR.

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