Sozinho.
atravessando dias estranhos onde qualquer resquício de pessimismo é só vaidade
dum coroa precoce pretendendo-se adolescente. teus antigos heróis da rua de
baixo afogando-se em álcool na tua memória de galinha urbana. a última vez que
morre a esperança. o fim do romantismo. Sozinho. teus amigos cansados e casados
demais. Sozinho. dando bobeira, deixando que trens em movimento lhe ralem a
cara e cinicamente te façam rezar, molhar os olhos com lágrimas reprimidas há
anos. Sozinho. queimando roupas com brasas de cigarro, cortinas e panos de
prato. Perdendo. tuas ultimas moedas no ralo da pia entupida. Sozinho. desperdiçando
no tapete últimos goles de cerveja. Perdendo aquele livro de haicais
subversivos no banco do busão. Sozinho. perdendo empregos, possíveis fodas e
afins. perdendo a paz. Sozinho. com teus poemas ruins e toda a vergonha que um
dia cê estampou na cara. tua coleção de fotos sépias de dias bons. Sozinho. ao
redor duma lata de lixo em chamas. xamanicamente patético, sem um misero trago
de misericórdia.
Perdendo
Sozinho
aquele
camarada inalando pó, sem tempo pra cervejas e conversas atôa.
nem
teu gato te faz mais companhia, resolveu dar mais trabalho que teu grande
ex-amor.
aliás,
os
resquícios
e as memórias
até o álcool
e a esperança
a rua heroica
e toda tua cara ralada
as moedas
e as fodas
os nacos de pó
as cervejas e as conversas...
e as memórias
até o álcool
e a esperança
a rua heroica
e toda tua cara ralada
as moedas
e as fodas
os nacos de pó
as cervejas e as conversas...
é
culpa de quem te desbandeirou
te fez trocar de Deus
te fez trocar de Deus
emoções
semelhantes a tua primeira comunhão caindo em noitadas de jazz, riscando vinils
mais antigos que tua avó remotamente morta. Forjando discalculias
matematicamente em desuso-social, tentando te ensinar adições e subtrações,
multiplicar pra dividir com o próximo.
tua
família, teus vizinhos evangélicos e as FMs locais.
os
guris chutando bola, estilhaçando tua paciência e vidraças.
gurias
de 15 tramando te meter na cadeia, fazendo o possível pra que tua mãe te amaldiçoe
e teu pai nunca mais beba com você
em
momentos cruciais
cê
nunca sabe quanto é 8vezes7.
pedaços
de pau
ferragens
e quilos de cal
te
fazendo velejar
nesse
mar de choro
entre
trovões de soluços
povoados
de muros e murros.
tua
cara de babaca esperando que a chuva passe na quarta-feira e cê ainda tenha um
emprego, que as oito contas de energia possam ser quitadas, que os tocos de
vela durem a noite inteira. Tentando se convencer que tudo não passa duma
espécie de azar, uma fase ruim, apenas maus momentos, bocados de lixos,
cachorro
chutado pra fora da missa das seis.
Um
caga-regras escalado pra te ensinar a comungar com a falta, lavar a velha
camisa xadrez, três doses de acordes, três horas depois e a poltrona submersa,
teu cu-de-ferro, tua vida ferrada vezes três
Trens
Socos
Sopros
Vidas
morrendo
Amores
doentes
E
deuses profanando adeus
Teus
castelos de guimbas fudidas. Teus quadros tortos na parede rachada. Tua
desgraça esperando na esquina. teu lençol furado cheirando a cigarros. Fumaça
cravada no teto, tuas palavras longas de baixo calão. Tua solidão.
Trilhos
Concretos
Cacos
e nacos de nada
Tua
carteira de trabalho e previdência social em branco
Restos
Migalhas
do que sobrou
Tua
inadimplência
Teus
votos nulos
E
filmes Bs
Tuas
costas curvas
Teu
pau ignorado
A
geladeira estragada
O gato
que que não sai do telhado
Tuas
perguntas ao pó
Tua
bíblia smoking-hemp
Tuas
paranoias pós-neandertais
Lembranças
de dias bons que te fazem tão mal.
Às 3
da tarde tá escuro lá fora e o carteiro foge de você, o lixeiro ignora tuas
sacolas, o vendedor de panelas te acha tão magro, os mórmons te acham triste
demais
um
Office-boy pedala tranquilo, na rua de trás
Dias
bons
Nunca
mais
caminhadas
atoa
Parques
de diversão
doses
no bar da esquina
punhetas
pra filha da vizinha
palmas
no portão
faz
tempo que não chove. Meio que tanto faz, cê anda cagando pros meteorologistas e
companhia. Fez uma casinha pro gato com a antena da TV, ele odiou. Quase chorou
quando soube que um cara morreu ontem a noite na linha do trem. pisou na merda.
Resolveu recolher as sacolas que os lixeiros não levaram, construiu uma
barricada e armou tocaia pro carteiro, meteu-lhe três ovos na fuça. Nunca mais
almoçou.
Anda
triste pra caralho
Da
sala pra cozinha
Tem um
buraco no chão
Quebrou
três discos
Queimou
seis livros
Rabiscou
nove cartas pra queimar depois
Riscou
um palito de fósforos dentro da própria caixa e quase sorriu
suicídio
é uma questão de vocação.
O
sofrimento também
Quer
ser feliz
Atende
o telefone
Bela
porcaria as considerações dela em momentos de crise
seus
num-sei-o-que
suas
novidades recém descobertas,
seus
tudo-bem
boa
noite,
sonhe
com os anjos.
Eternamente
amigos nunca mais
Até
que a morte vos carregue
Felizes-pra-sempre
Ela,
indiferente a tua tristeza, desfruta de vitrines e gôndolas fashions. Reserva
vôos turísticos pro fim de semana, pros próximos feriados prolongados que nunca
duram o suficiente.
Ela
nunca vai dar o braço
pra
você torcer.
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