Faz tempo que eu
não faço isso. Faz tempo que eu não sento simplesmente e escrevo sobre “as
minhas coisas”. Provavelmente deve ser porque eu ando falando delas
excessivamente por aí, tirando bocejos dos meus interlocutores encurralados. É
foda. Talvez por que acabei de ler o “ESCREVER PARA NÃO ENLOUQUECER” do
Bukowski (foi o Bruno Bandido que me emprestou, mó honra, já que ele tinha
acabado de comprar a parada e não ia ler por enquanto e a gente também tinha
acabado de trocar uma ideia pessoalmente depois de 6 ou 7 anos de conversas
virtuais, desde as prorrogações da era blog até o facebook dos dias atuais). Esse
Bukowski, são cartas que ele escreveu entre 1945 e 1993 pra editores, leitores,
desafetos e amigos como o seu velho herói John Fante. É esse Bukowski armado
até o dentes e também é esse Bukowski desarmado, deixando suas vaidades
deslizarem no papel (como o Bortolotto observou numa postagem do facebbok) e
também tá ali esse cara que em se tratando de fazer o seu trabalho não fazia
concessões e blasfemava com prazer e rancor sobre a literatura benga-mole dos
seus contemporâneos e mantinha-se sozinho. Escrevendo. Sem turma. Escrevendo
poemas e contos e cartas, muitas cartas. Cartas com sabedorias desse naipe: “...
escritores de muito sucesso são como presidentes: ganham o voto porque a multidão
enlouquecida reconhece neles algo de si”. O cara que escreveu pra não
enlouquecer e morreu afirmando isso: “A escrita me salvou do hospício, do
assassinato e do suicídio. Ainda preciso dela. Agora. Amanhã. Até o último
suspiro.”
Mas o que eu
tava dizendo... É exatamente isso que eu tava dizendo. Noite dessas, eu passei
horas batucando as teclas da minha velha Olivetti, como há muito eu não fazia. Lendo
o Buk e pensando nesses tempos de blog, quando eu nem tinha computador e
passava as noites trancado num quartinho martelando as teclas da Olivetti e no
outro dia ia digitar tudo numa lan house e ler o que tipos como o Bruno Bandido
e o Bortolotto escreviam, pô, essas coisas às vezes me enchem de lembranças
boas de quando tava tudo tão mal. E não são as derrotas em si. São as
possibilidades de explora-las com a distância necessária, saca? É claro que hoje
a vida é muito melhor e eu não tenho saudade nenhuma daquelas fossas absurdas
que faziam meus dedos trabalharem nas teclas em noites frias de solidão regada
a conhaque. São essas lembranças envelhecidas em tonéis obscuros em algum lugar
da nossa cabeça chapada, vindo à tona. É esse simples levantar o rabo da
poltrona e por algum motivo ter essa necessidade de escrever sobre “as minhas
coisas” dentro da coisa toda. O Bukowski, o Bandido, o Bortolotto fazem isso de
um modo que eu acho bonito. Tô achando que esse ano o inverno vai dar as caras
por aqui. Lá fora tá quase frio.
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