quinta-feira, 17 de março de 2016

DE VOLTA A LOUCURA

Faz tempo que eu não faço isso. Faz tempo que eu não sento simplesmente e escrevo sobre “as minhas coisas”. Provavelmente deve ser porque eu ando falando delas excessivamente por aí, tirando bocejos dos meus interlocutores encurralados. É foda. Talvez por que acabei de ler o “ESCREVER PARA NÃO ENLOUQUECER” do Bukowski (foi o Bruno Bandido que me emprestou, mó honra, já que ele tinha acabado de comprar a parada e não ia ler por enquanto e a gente também tinha acabado de trocar uma ideia pessoalmente depois de 6 ou 7 anos de conversas virtuais, desde as prorrogações da era blog até o facebook dos dias atuais). Esse Bukowski, são cartas que ele escreveu entre 1945 e 1993 pra editores, leitores, desafetos e amigos como o seu velho herói John Fante. É esse Bukowski armado até o dentes e também é esse Bukowski desarmado, deixando suas vaidades deslizarem no papel (como o Bortolotto observou numa postagem do facebbok) e também tá ali esse cara que em se tratando de fazer o seu trabalho não fazia concessões e blasfemava com prazer e rancor sobre a literatura benga-mole dos seus contemporâneos e mantinha-se sozinho. Escrevendo. Sem turma. Escrevendo poemas e contos e cartas, muitas cartas. Cartas com sabedorias desse naipe: “... escritores de muito sucesso são como presidentes: ganham o voto porque a multidão enlouquecida reconhece neles algo de si”. O cara que escreveu pra não enlouquecer e morreu afirmando isso: “A escrita me salvou do hospício, do assassinato e do suicídio. Ainda preciso dela. Agora. Amanhã. Até o último suspiro.”


Mas o que eu tava dizendo... É exatamente isso que eu tava dizendo. Noite dessas, eu passei horas batucando as teclas da minha velha Olivetti, como há muito eu não fazia. Lendo o Buk e pensando nesses tempos de blog, quando eu nem tinha computador e passava as noites trancado num quartinho martelando as teclas da Olivetti e no outro dia ia digitar tudo numa lan house e ler o que tipos como o Bruno Bandido e o Bortolotto escreviam, pô, essas coisas às vezes me enchem de lembranças boas de quando tava tudo tão mal. E não são as derrotas em si. São as possibilidades de explora-las com a distância necessária, saca? É claro que hoje a vida é muito melhor e eu não tenho saudade nenhuma daquelas fossas absurdas que faziam meus dedos trabalharem nas teclas em noites frias de solidão regada a conhaque. São essas lembranças envelhecidas em tonéis obscuros em algum lugar da nossa cabeça chapada, vindo à tona. É esse simples levantar o rabo da poltrona e por algum motivo ter essa necessidade de escrever sobre “as minhas coisas” dentro da coisa toda. O Bukowski, o Bandido, o Bortolotto fazem isso de um modo que eu acho bonito. Tô achando que esse ano o inverno vai dar as caras por aqui. Lá fora tá quase frio.

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